terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Análise de Poemas
(Fernando Pessoa)

Análise do poema “Aniversário”(Álvaro de Campos)



Escrito em 1929, portanto já um poema de maturidade de Pessoa, o poema "Aniversário" pode certamente contar-se entre os poemas mais tristes e simultaneamente pungentes de toda a obra do poeta. Lembremos porém, e em antecipação à análise propriamente dita, a biografia deste heterónimo. Campos é o heterónimo da modernidade em Pessoa, é o escandaloso, o extrovertido, cuja poesia (sobretudo em prosa) propícia a oralidade - é feita quase para ser declamada em voz alta. Sem métrica definida, muitas das vezes autor de longas odes, Campos marca a diferença também por essa forma de encarar a poesia. O caos do seu método é o caos do mundo moderno que ele retrata tão magistralmente, quer nos momentos activos (fase modernista), quer passivos (fases decandentista e pessimista). O poema "Aniversário" enquadra-se precisamente na última fase do poeta, a fase dita "pessimista", em que os temas abordados por Campos voam em redor da sua desilusão com a vida, com a amargura e a lembrança de um passado para onde nunca mais poderá regressar. "Aniversário" é mesmo marcado por essa recordação da infância: " No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, / Eu era feliz e ninguém estava morto". Campos parece referir-se aos anos de infância de Pessoa, em que nenhum dos seus irmãos tinha ainda morrido, e o seu próprio pai ainda o acompanhava. Nesse "tempo", festejar os anos era ainda uma festa inocente e feliz. Tudo isto na "casa antiga", na casa de infância. Talvez a casa do Largo de S. Carlos, ao Chiado, onde nasceu. Esse tempo passado é um tempo feliz, mas simultaneamente um tempo perdido, porque as crianças não sabem que são felizes, só mais tarde quando recordam. As crianças têm "a grande saúde de não perceber coisa nenhuma". Tudo isso se perdeu. Perdeu-se "o menino". "O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), / O que eu sou hoje é terem vendido a casa, / É terem morrido todos, / É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio..." Passa uma grande desilusão nestas palavras. A infância perdeu-se para nunca mais regressar igual, e o hoje o poeta sente essa perda como a perda da sua identidade feliz. Ele apenas sobrevive, como "um fósforo frio", ou seja, um cadáver que vive, mas sem função, abandonado, sem utilidade. Campos deseja reatar o fogo apagado,", comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!", mas não o vai conseguir. Ele sabe-o quando diz: " Pára, meu coração! / Não penses! Deixa o pensar na cabeça!" Deixar de pensar é, em Pessoa, alcançar a paz dos simples de espírito, daqueles que vivem simplesmente a vida: um objectivo que ele paradoxalmente sempre perseguirá, sendo ao mesmo tempo o maior dos poetas racionais.


Análise do poema "O que há em mim é sobretudo cansaço"(Álvaro de Campos)


Pessoa diz, na célebre carta em que relata a origem dos heterónimos (e que pode ler na secção Ensaios do Major Reformado), o seguinte: O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea em verso.)" O assunto da simulação, vasto em Pessoa, encontra em Álvaro de Campos uma encruzilhada. Porque para Pessoa, escrever a Prosa de Campos é "difícil". Porquê? Porque em Campos, encontramos temas sensíveis a Pessoa e que Pessoa deslocaliza, pelo menos emocionalmente, para a caneta do seu heterónimo engenheiro naval. Esses temas são nomeadamente, os relativos à infância, à memória da sua mãe e das viagens para a África do Sul. Como nasce Campos? Pessoa diz na mesma carta: "E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo individuo. Num jacto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.". Ou seja, Campos surge em oposição a Reis, o que Reis tem de exacto, Campos tem de maleável, o que Reis apresenta de rigoroso, Campos demonstra irracional. Poeta sensacionista por excelência, escandaloso e moderno, Campos descreve um mundo em mudança, por efeito retardado (pelo menos em Portugal) da revolução industrial. Mas há, mesmo em Campos, 3 fases distintas (Prado Coelho). A do Opiário (1914); a das grandes Odes (1914-16) e a fase pessoal, que termina com a própria morte de Pessoa (1916-35). Choca em contraste que o poeta poderoso, à Whitman, que exorta delirante a máquina, que fala do peito as proezas da Energia e do Progresso, surja por vezes tão assumidamente deixado ao tédio, que quase abúlico, fica morto de entusiasmo e capturado pelo niilismo. Prado Coelho diz-nos que "Campos sentiu como Whitman para deixar de sentir como Campos" (in Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa). Tão semelhante se torna a Pessoa, que Pessoa o traz consigo para a vida do dia-a-dia, falando por exemplo dele a Ophélia de Campos, como se pela sua própria voz. Campo é a parte desligada da realidade emocional de Pessoa. Nele Pessoa escreve mais despreocupado do que se escrevesse em nome próprio, e sente segurança para se deitar ao lamentos de uma vida de sofrimento. Campos é menos sereno, é mais intranquilo, mais solto, energético mesmo quando deitado ao tédio, do que Pessoa-ele mesmo. O poema de que pede uma análise é um poema típico de abulia de Campos, é um texto filho da herança do grande texto em prosa Passagem das Horas (1916). O tom heróico, Whitmaniano, deixa de se ouvir, para Campos se deixar dominar por Pessoa, num tom mortal e lento, litanias nocturnas, textos deixados à confissão, sem filtros racionais. A consciência que Caeiro quer não enfrentar, Campos perde-a pelo exagero (Eduardo Lourenço). A noite "materna" invade-o. Porque assombrado pela memória da mãe, da infância perdida, a sua sinceridade acha apenas cansaço, quando ele se vê perto da morte, sem esperança de um regresso impossível à felicidade infantil. A noite é, em sentido literal, a sua própria mãe, que o abandona, mas nunca deixa de o dominar. Analisando o poema:

"O que há em mim é sobretudo cansaço/ Não disto nem daquilo, /Nem sequer de tudo ou de nada: Cansaço assim mesmo, ele mesmo, /Cansaço." Ele fala do cansaço assumido como coisa em si mesma, sem já ser condição. Este tédio, que perpassa também na obra de Bernardo Soares, soa muito a desapontamento, a conclusões falhadas, objectivos não atingidos. "A subtileza das sensações inúteis, /As paixões violentas por coisa nenhuma, /Os amores intensos por o suposto alguém. /Essas coisas todas - /Essas e o que faz falta nelas eternamente -; /Tudo isso faz um cansaço, /Este cansaço, /Cansaço." É um discurso contra a acção, contra a vontade, que no mundo não é operante, mas destinada ao fracasso. Campos elenca coisas que todos perseguem - as sensações, as paixões, o amor - e diz que todas elas falham em significado. "Há sem dúvida quem ame o infinito, /Há sem dúvida quem deseje o impossível, /Há sem dúvida quem não queira nada - /Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: /Porque eu amo infinitamente o finito, /Porque eu desejo impossivelmente o possível, /Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, /Ou até se não puder ser..." Aqui Campos ironiza com aqueles que pretendem ter maiores pretensões do que aquelas que ele acha possível. Há quem ame o infinito - os amantes do conhecimento, os filósofos e os religiosos; há quem deseje o impossível - os sonhadores, os ambiciosos; há quem não queira nada - os pessimistas, os humildes. Todos eles - segundo Campos - erram, por serem idealistas. Ele ama infinitamente o finito - ou seja, quer tudo no nada, quer a compreensão subtil do desconhecido - quer o paradoxo, inatingível, mas contínuo na sua loucura. "E o resultado? /Para eles a vida vivida ou sonhada, /Para eles o sonho sonhado ou vivido, /Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... /Para mim só um grande, um profundo, /E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, /Um supremíssimo cansaço. /Íssimo, íssimo. Íssimo, /Cansaço...". O resultado - Campos anuncia-o, pondo-se acima de todos aqueles que critica - é para os outros a vida. Mas para Campos, a vida não chega, em parte porque ele próprio nunca se sente satisfeito - não tem a riqueza, a fama, a mãe, a infância, sobretudo a tranquilidade e a paz de espírito para trabalhar. Por isso ele, quando se diz insatisfeito, revela-se invejoso da vida alheia. Campos-Pessoa está cansado por não ter atingido o que para os outros é tão fácil, porque os outros não duvidam, são empreendedores, mesmo quando nada desejam. Deixam-se à vida, serenos ou irados, mas completos, humanos, que vivem e que morrem sem perguntas. Campos-Pessoa não é um ser assim, pois em si mesmo rumina uma intensa intranquilidade, que ele justifica como cansaço, não-agir, em razão de não aceitar o seu fracasso no mundo."Eu dividiria o poema em 4 partes: 1) Explicação das sensações de cansaço, 2) A racionalização/explicação da sensação de cansaço, 3) Comparação e 4) Conclusão.

Concordo que o poema é da "3.ª Fase", a fase pessoal (Jacinto Prado Coelho) ou "Fase Pessimista", como aparentemente está no programa do 12.º ano de Português. Tenha só em atenção que a 3.ª fase é posterior não só ao futurismo mas ao sensacionismo (a vivência exagerada das emoções) da 2.ª fase. Ele de facto "lutou que nem um desgraçado", embora possa soar melhor se disser que ele "ficou desiludido com os seus esforços e energia despendidos na exortação do sonho". Eu teria cuidado a comparar Caeiro com Campos. Com efeito, Caeiro não sofre do cansaço, como Campos, porque Caeiro é "contente", "satisfeito", vê beleza em não compreender. Caeiro aceita a derrota de não pensar, enquanto Campos se desilude com ela. O cansaço não é de algum modo igual em ambos os heterónimos. A palavra-chave em Caeiro é "Ataraxia" (tranquilidade) enquanto em Campos será "Intranquilidade". Concordo que o exagero traz o cansaço, porque a energia se dilui na realidade que não o satisfaz. Na comparação é que se encontra a semelhança a Caeiro - o Afastamento dos outros. Caeiro também se afasta, dizendo que os outros pensam desnecessariamente as coisas, quando as devem só viver sem pensar. Campos e Caeiro têm essa característica, do afastamento. Na conclusão, a palavra "isto...", julgo que ele se refere à vida. Relembro-lhe que o cansaço de que ele fala, é o cansaço de não atingir o sonho que ele desenhou para si mesmo. O "isto..." que ele vê nos outros, é, para ele, um "isto..." insuficiente. O adjectivo infecundo faz todo o sentido. Veja que ele está com ódio de não ter conseguido, por isso dá-se (quase masoquistamente) por contente por ter fracassado. É uma maneira de ele justificar o seu cansaço, assumindo de tal modo a derrota, que lhe parece um sucesso fracassar assim, de modo tão magnífico e total. Parece estranho, mas era assim que pensava Pessoa, no seu íntimo, pelo que me é dado analisar e por comparação pela minha própria experiência de vida. O poema é de facto paradoxal, porque é um lamento. A dor muita das vezes não faz sentido, quando a analisamos.


Análise do poema “Opiário”(Álvaro de Campos)


“No poema Opiário, Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa) escreve quadras, estrofes de quatro versos, de teor autobiográfico, se apresentando amargurado e insatisfeito. Ainda sob influência simbolista, há preocupação com a métrica e com a rima. Este é o único poema da primeira fase de Campos, a fase da morbidez e do torpor (Decadentismo). Exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. É marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens). Álvaro de Campos declara-se decadente, quando se refere ao Opiário. O poema imita-lhe desde a nostalgia de além, a morbidez snob de um saturado de civilização, a embriagues do ópio e dos sonhos de um Oriente que não há, o horror à vida, o realismo satírico de certas notações, até ao vocabulário entre precioso e vulgar, às imagens, símbolos, estilo confessional brusco, amimado e divulgativo, ao ritmo dos decassílabos agrupados em quadras. Opiário foi oferecido a Mário de Sá-Carneiro e escrito enquanto navegava pelo Canal do Suez, em Março de 1914.


Análise do poema “Ode Triunfal”(Álvaro de Campos)


O sujeito poético neste poema exprime com exaltação e excesso o seu orgulho em ser moderno e contemporâneo de uma beleza industrial “totalmente desconhecida dos antigos” num desejo assumido de acolher todas as sensações. O poeta representa de forma exagerada o louvor ao mundo moderno.


Análise do poema" Eu nunca guardei rebanhos" ( Alberto Caeiro)

O poeta compara-se a um pastor que anda pelos campos a guardar rebanhos, neste caso, os seus rebanhos são os seus pensamentos.
O sujeito poético identifica-se bastante com a natureza, pois ele afirma que anda ao ritmo das estações, compara os seus estados de espírito com momentos de natureza.
Na ultima estrofe do poema o sujeito poético apresenta uma saudação de uma especie de camponês que tira o chapéu em sinal de respeito e deseja aquilo que é mais importante para o Homem ligado á natureza.
Alberto Caeiro afirma-se um poeta que exprime o desejo de abolir a consciência, isto é, o vicio de pensar, lamentando o facto de ter consciência dos seus pensamentos, enunciando repetidamente o acto de ver, além de outras sensações.

Análise do poema "Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"(Ricardo Reis)
1ª Estrofe
· Convite à fruição amorosa serena, uma vez que a vida é breve.
2ª Estrofe
·        Consciência da efemeridade da vida, da impossibilidade de voltar a vive-la, uma vez que o “fado” tudo controla.
3ª Estrofe
· Desenlace amoroso, pois é preciso evitar os grandes desassossegos para evitar a dor.
4ª Estrofe
· É necessário evitar todos os desassossegos que podem trazer a dor.
5ª Estrofe
· Convite á fruição amorosa tranquila, espiritual, evitando os excessos de amor físico.
6ª Estrofe
· Valorização do “carpe diem”, colhendo o “perfume” do momento evitando o conhecimento das coisas.
7 e 8 Estrofes
· Conclusão do poema e justificação para o modelo de vivência amorosa defendido pelo poeta: se um deles morrer antes o outro não terá que sofrer por isso, uma vez que viveram um amor inocente, sem excessos.
  O sujeito neste poema propõe a Lídia uma relação tranquila, contida, sem envolvimento nem paixão, como única forma de evitar o sofrimento provocado pela separação que a morte de um deles poderia trazer.
No poema, são notórios os conceitos de epicurismo e estoicismo, aqui fundidos: se a vida passa e não se pode evitar a morte, é preciso, por um lado, aproveitar totalmente o presente (epicurismo) e, por outro lado vivê-lo com serena e disciplinada aceitação do destino (estoicismo).
 















segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)




Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.



Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.

Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.



Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.



Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.
 
 
 
Características estilísticas



  •  Verso livre, em geral, muito longo;


  •  Assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas);


  • Grafismos expressivos;


  • Mistura de níveis de língua;


  • Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva;


  • Desvios sintácticos;


  • Estrangeirismos, neologismos;


  • Subordinação de fonemas;


  • Construções nominais, infinitivas e gerundivas;


  • Metáforas ousadas, oxímeros, personificações, hipérboles;


  •  Estática não aristotélica na fase futurista




Características Literárias

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)



  •  Exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
  • Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
  • Marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)
  • Abulia, tédio de viver
  • Procura de sensações novas
  • Busca de evasão “E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
  • “E eu vou buscar o ópio que consola.”


2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS (FUTURISTA/SENSACIONISTA)


Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campo apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.


  • Celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna
  • Apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina
  • Exalta o progresso técnico, a velocidade e a força
  •  Procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
  • Canta a civilização industrial
  • Recusa as verdades definitivas
  •  Estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita
  • Intelectualização das sensações
  • A sensação é tudo
  • Procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”
  • Cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino
  •  Tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir
  •  Exprime a energia ou a força que se manifesta na vida 
  • Versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oximoros)


 Futurismo


  • -Elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal),


  • Ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional;


  • Atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida;


Sensacionismo


  • Vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)


  • Sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)


  • Cantor lúcido do mundo moderno


3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO


Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

  • Caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração
  •  Face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido
  •  Frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior
  •  Dissolução do “eu”
  •  A dor de pensar
  •  Conflito entre a realidade e o poeta
  • Cansaço, tédio, abulia
  • Angústia existencial
  •  Solidão
  • Nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário).



Características Estilísticas


  •  Verso livre, em geral, muito longo


  •  Assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)


  •  Grafismos expressivos


  •  Mistura de níveis de língua


  • Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva


  • Desvios sintácticos


  •  Estrangeirismos, neologismos


  • Subordinação de fonemas


  •  Construções nominais, infinitivas e gerundivas


  •  Metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles


  • Estética não aristotélica na fase futurista






sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ricardo Reis
(Heterónimo de Fernando Pessoa)





"O Dr. Ricardo Reis nasceu dentro da minha alma no dia 29 de Janeiro de 1914, pelas 11 horas da noite. Eu estivera ouvindo no dia anterior uma discussão extensa sobre os excessos, especialmente de realização, da arte moderna. Segundo o meu processo de sentir as cousas sem as sentir, fui-me deixando ir na onda dessa reacção momentânea. Quando reparei em que estava pensando, vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, e que a ia desenvolvendo. Achei-a bela e calculei interessante se a desenvolvesse segundo princípios que não adopto nem aceito. Ocorreu-me a ideia de a tornar um neoclassicismo «científico» [...] reagir contra duas correntes - tanto contra o romantismo moderno, como contra o neoclassicismo à Maurras."



Características estilísticas

(Ricardo Reis)


  • Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita.

  • Estrofes regulares de verso decassílabo alternadas ou não com hexassílabo

  • Verso branco

  • Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração

  • Predomínio da subordinação

  • Uso frequente do hipérbato

  • Uso frequente do gerúndio e do imperativo

  • Uso de latinismos (astro, ínfero, insciente...)

  • Metáforas, eufemismos, comparações, imagens

  • Estilo construído com muito rigor e muito denso

  • Classicismo erudito:

  • precisão verbal

  • recurso à mitologia (crença e culto aos deuses)

  • princípios de moral e da estética epicurista e estoica

- tranquila resignação ao destino

- Poeta Intelectual, sabe contemplar: ver intelectualmente a realidade

- Aceita a relatividade e a fugacidade das coisas

- Verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena

- Características modernas no poeta: angústia e tristeza

- Linguagem e estilo:

- privilegia a ode, o epigrama e a elegia.

- usa a inversão da ordem lógica, favorecendo o ritmo das suas ideias disciplinadas

- estilo densamente trabalhado, de sintaxe alatinada, hipérbatos, apóstrofes, metáforas, comparações, gerúndio e imperativo.

- verso irregular e decassilábico

“Reis procura simplesmente aderir ao momento presente, gozá-lo, sem nada mais pedir.”



*”epicurista triste”- (Carpe Diem)- busca do prazer moderado a da ataraxia;



*busca do prazer relativo;



*estoicismo – aceitação calma e serena da ordem das coisas;



Características literárias
(Ricardo Reis)



  • linguagem erudita alatinada, quer no vocabulário (latinismos), quer na construção de frase (hipérbato);

  • preferência pela Ode de estilo Horácio;

  • irregularidade métrica;

  • gosto pelo gerúndio;



  • uso frequente do imperativo;

  • estilo laboriosamente trabalhado; elegante; pesado;

  • importância dada ao ritmo;

  • moralista – pretende levar os outros a adoptar a sua filosofia de vida;

  • intelectualiza as emoções;

  • temática da miséria da condição humana do FATUM (destino), da velhice, da irreversibilidade da morte e da efemeridade da vida, do tempo;

  • espírito grave , ansioso de perfeição;

  • aceitação do Fado, da ordem natural das coisas;






Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)



Fernando Pessoa explicou a “vida”de cada um de seus heterónimos. Assim apresenta a vida do mestre de todos, Alberto Caeiro:
"Nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase alguma, só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia avó. Morreu tuberculoso."
Pessoa cria uma biografia para Caeiro que se encaixa com perfeição na sua poesia, como podemos observar nos 49 poemas da série O Guardador de Rebanhos. Segundo Pessoa, foram escritos na noite de 8 de Março de 1914, de um só fôlego, sem interrupções. Esse processo criativo espontâneo traduz exactamente a busca fundamental de Alberto Caeiro: completa naturalidade.
      “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
      Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é.
      Mas porque a amo, e amo-a por isso,
      Porque quem ama nunca sabe o que ama
      Nem por que ama, nem o que é amar...”


Nasceu em em 1889, em Lisboa, e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão, nem educação quase nenhuma: apenas a instrução primária. era de estatura média, frágil, mas não o aparentava. Era louro, de olhos azuis. Ficou órfão de pai e mãe muito cedo e deixou-se ficar em casa a viver dos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Escrevia mal o Português. É o pretenso mestre de A. de Campos e de R. Reis. É anti-metafísico; é menos culto e complicado do que R. Reis, mas mais alegre e franco. É sensacionalista.


CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS
 (Alberto Caeiro)



  • Discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Proximidade da linguagem do falar quotidiano, fluente, simples e natural;

  • Pouca subordinação e pronominalização

  • Ausência de preocupações estilísticas

  • Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo.

  • Vocabulário simples e familiar, em frases predominantemente coordenadas, repetições de expressões longas, uso de paralelismo de construção, de simetrias, de comparações simples.

  • Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: (dando uma impressão de pobreza lexical) pouca adjectivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo (acções ocasionais) ou no gerúndio. (sugerindo simultaniedade e arrastamento).

  • Frases predominantemente coordenadas, uso de paralelismos de construção, de comparações simples:


Características Literárias
(Alberto Caeiro)



  • Predomínio do Presente do Indicativo;

  • Figuras de estilo muito simples;

  • Vocabulário simples e reduzido; (pobreza lexical);

  • Uso da coordenação para a ligação das orações;

  • Frases incorrectas;

  • Aproximação à linguagem falada, objectiva, familiar, simples;

  • Repetições frequentes;

  • Uso do paralelismo;

  • Pouca adjectivação;

  • Uso dos substantivos concretos;

  • Ausência da rima;

  • Irregularidade métrica;

  • Discurso em verso livre;

  • Estilo coloquial e espontâneo;