segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Álvaro de Campos
(Heterónimo de Fernando Pessoa)




Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.



Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.

Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.



Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.



Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.
 
 
 
Características estilísticas



  •  Verso livre, em geral, muito longo;


  •  Assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas);


  • Grafismos expressivos;


  • Mistura de níveis de língua;


  • Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva;


  • Desvios sintácticos;


  • Estrangeirismos, neologismos;


  • Subordinação de fonemas;


  • Construções nominais, infinitivas e gerundivas;


  • Metáforas ousadas, oxímeros, personificações, hipérboles;


  •  Estática não aristotélica na fase futurista




Características Literárias

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)



  •  Exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a náusea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
  • Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
  • Marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)
  • Abulia, tédio de viver
  • Procura de sensações novas
  • Busca de evasão “E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
  • “E eu vou buscar o ópio que consola.”


2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS (FUTURISTA/SENSACIONISTA)


Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campo apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.


  • Celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna
  • Apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina
  • Exalta o progresso técnico, a velocidade e a força
  •  Procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
  • Canta a civilização industrial
  • Recusa as verdades definitivas
  •  Estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita
  • Intelectualização das sensações
  • A sensação é tudo
  • Procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”
  • Cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino
  •  Tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir
  •  Exprime a energia ou a força que se manifesta na vida 
  • Versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oximoros)


 Futurismo


  • -Elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal),


  • Ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional;


  • Atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida;


Sensacionismo


  • Vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)


  • Sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente, / tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)


  • Cantor lúcido do mundo moderno


3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO


Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.

  • Caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração
  •  Face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido
  •  Frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior
  •  Dissolução do “eu”
  •  A dor de pensar
  •  Conflito entre a realidade e o poeta
  • Cansaço, tédio, abulia
  • Angústia existencial
  •  Solidão
  • Nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário).



Características Estilísticas


  •  Verso livre, em geral, muito longo


  •  Assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)


  •  Grafismos expressivos


  •  Mistura de níveis de língua


  • Enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva


  • Desvios sintácticos


  •  Estrangeirismos, neologismos


  • Subordinação de fonemas


  •  Construções nominais, infinitivas e gerundivas


  •  Metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles


  • Estética não aristotélica na fase futurista






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